Por que ser Anna?

Não é algo que se escolhe, ter ou não qualquer tipo de transtorno alimentar. Não é, nem mesmo, algo que se cultiva. O transtorno simplesmente se instala em você, chega sem fazer alarde. Quando você se dá conta, o transtorno já é parte de você, já consome boa parte do seu dia, dos seus pensamentos. Logo, você simplesmente não é capaz de parar de pensar em calorias, não consegue comer algo sem pensar, simplesmente engolir como a maioria das pessoas fazem. Você cria rituais na hora de se alimentar, procura receitas menos calóricas, fica de olho em novidades no supermercado, toma litros de água e se pesa várias vezes por dia.

Não é uma escolha, apenas faz parte de você, de quem você é.

Se analizarmos bem, não há sofrimento. Eu tenho transtornos alimentares desde os 7 anos de idade, fui criada por uma família de mulheres com transtornos alimentares. Depois de muitos anos de efeito sanfona, remédios, internações e terapias, eu simplesmente não sei me ver sem o que denominam "doença". Ora, eu fiz tudo o que os doutores disseram, tentei me tratar e segui as ordens médicas. Ver esses comportamentos alimentares como uma doença, como algo indesejável que eu deveria lutar contra só me levou a odiar uma parte de mim, lutar contra mim mesma, sem sucesso. Hoje, já com quase 16 anos de transtorno alimentar, eu não quero mais ver essa "doença" como algo que eu deva me envergonhar de ter. Não quero odiar quem eu sou, eu quero aprender a conviver com quem eu sou, sem separar uma parte da minha mente e querer despersonalizar a minha totalidade.

Eu sou isso, eu tenho transtorno alimentar e provavelmente terei até morrer. Tratamentos foram ineficazes, agora cabe a mim aprender a viver como sou, minimizar os perigos da doença e buscar a beleza.

Por isso fundo esse novo blog, um espaço para trocar informações com outras garotas como eu que já não acreditam que devem lutar contra os transtornos alimentares, mas sim aprender a conviver com ele, uma vez que não corresponderam aos tratamentos.